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Em um mundo moderno em que a razão
supera todas as expectativas da existência; em um mundo em que a ordem só pode ser entendida pelo prisma das ideologias; em um mundo em que as injustiças não são devidamente
reparadas e em que
a justiça é impotente, o absurdo se conSolida e não encontra eco nas consciências.
Ora, se a razão
declarou, desde Descartes,
que o real
só pode ser
compreendido se objetivado, a esfera do
simbólico gira aleatoriamente sem poder firmar-se no mundo. A arte e a religião ocupam, portanto,
a responsabilidade de interpretação, mas
não de positividade com
o real. Impera a “peste”
da ignorância e os ratos,
condutores da epidemia,
inoculam, desde o início
da propagação, o vírus
da cegueira e o da resignação. O primeiro
destitui os homens de conhecimento, enquanto
que o segundo atira-os aos confins da vida
celeste ou nos Jardins
suspensos da Babilônia terrestre. Em A Peste de Albert Camus, essa alegoria
da alienação é descrita sem piedade,
mostrando, inclusive, o estágio
a que chegam os contaminados pela peste. As feridas
expostas pela peste
mostram o grau de ignorância
de uma sociedade que
não se preveniu deste tipo de mal, contudo, deSolada e doente, não pode mais estar aberta aos contatos
com o resto
do mundo. O absurdo
conSolida-se como
se fora irremediável.
A clausura provocada pela
epidemia faz definhar, pouco
a pouco, a dimensão
cosmopolita de uma cidade.
Fazem de seus cidadãos
seres decaídos e miseráveis.
A morte, por seu turno, mostra seu rosto através
do desespero e tenta sobrepor-se à vida.
Estamos vivendo
na época das absurdidades
e a humanidade declina e se amofina diante do outro e não
se dá conta de sua indiferença e de sua estupidez... que 2015 não sucumba a todos nós.
Só nos resta a solidariedade e as manifestações sociais que bloqueiam o mal do
fanatismo e nos recoloca na esfera do Ser. Pois o quinhão, já de há muito,
cobra pela melancolia um estado de espírito que se ponha próximo do devir
(vir-a-ser) da existência.
Lourenço Leite