Os
dois amores
Jovem
encantador,
Dize-me:
por que, triste e suspirante, erras
Nestes
reinos aprazíveis? Peço-te, dize-me:
Qual
o teu verdadeiro nome? “Meu nome é o Amor.”
Então,
o primeiro virou-se para mim,
E
gritou-me: “Ele mente, porque o nome dele é a Vergonha.
Eu
é quem sou o Amor, e costumava estar aqui
Sozinho,
neste belo jardim, até que ele chegou
Como
um intruso durante a noite. Sou eu o verdadeiro Amor, que anima de uma chama
mútua os corações dos rapazes e das moças.
Então,
suspirando, o outro disse: “Segue tua fantasia,
Porque
eu, eu sou o Amor que não ousa dizer seu nome”.
Oscar Wilde (1854-1900)
(International Day Against Homophobia,
Biphobia and Transphobia)
É festejado em 17 de maio.
A data foi escolhida lembrando da exclusão da Homossexualidade
da Classificação
Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde
(CID) da Organização Mundial da Saúde (OMS) em 17
de maio de 1990.
Apesar de não validar muitas datas
comemorativas fruto de confirmações estereotípicas, essa não poderia, in memoriam, deixar de evocar as vítimas
inocentes perpetradas pela moral insana cristã/burguesa de nossa era.
A lista das pessoas que cometeram suicídio ou
foram exiladas, presas, torturadas, vilipendiadas, humilhadas e transformadas
em seres invisíveis é magistralmente longa e inexequível seu levantamento.
A pior e a mais abominável atitude fora e tem
sido a Indiferença. Os homossexuais de todos os países do planeta azul sofreram
a rejeição dos familiares, da sociedade civil, das instituições religiosas e de
ensino, das forças armadas e militares, dos amigos, da psiquiatria e da
psicanálise a condenação eterna prefigurada em vida. Criou-se mais um círculo
no Inferno de Dante para aqueles que praticaram e praticam a sodomia e a condenação
eterna fora instituída pelo Vaticano no pontificado do Papa João Paulo II em
carta encíclica quando afirmou que o problema não era ser homossexual, mas a
sua prática. Aqueles que quisessem permanecer no seio da Santa Madre Igreja
deveriam renunciar a prática sexual com seus parceiros ou suas parceiras. Ao contrário,
poderiam participar da Santa Eucaristia, mas não poderiam comungar. Esse Papa
está na lista dos santificáveis.
Felizmente, no pontificado atual de
Francisco, essa esdrúxula e insana proferição fora substituída pelo acolhimento
e pela inclusão do Outro, quando afirma: o que importa não é a sexualidade de
alguém, mas se essa pessoa ama a Deus e a seu próximo...
A única diferença entre um homossexual e um heterossexual
é a posição que ele ocupa na alcova em determinados momentos, porque em outros
a posição se inverte sem nenhum problema, exceto aqueles que optaram pela
atitude ativo(a) passivo (a) em decorrência das prefigurações estereotípicas da
moral e dos mores.
O corpo do homossexual é igualmente erotizado
e erotizável como toda e qualquer pessoa humana. O orgasmo é esperado tanto
quanto nos corpos heterossexuais. Todavia,
comumente, quando os héteros ou michês fazem sexo com homossexuais não se
preocupam com o orgasmo do parceiro, desse modo como fizeram os maridos com
suas esposas. O gozo fora privilégio exclusivo pelo falo do macho. Inclusive,
em alguns grupos étnicos da Mama África, ainda se mutilam crianças com lâminas
sem esterilização excizando-lhes parte do clitóris.
A paixão, bem como o amor, é igualmente sentida
pelos homossexuais de qualquer gênero. O (a) amado (a)/amante, como bem
descreveu Platão em sua obra magistral O Banquete, é um tipo de amor divino que
só os homoeróticos podem experimentar porque são os únicos seres que copulam na
esfera do Éter, em estado de suspensão, devido ao fato de serem-lhes
interditado a prática do amor entre seres do mesmo sexo. É um tipo de coito na
alcova do Ser. E ao retornarem ao mundo terrestre assumem a aparência de seres
normais. Essa experiência é retratada no Rapto de Ganymedes quando Zeus desce
do Olimpo sob a forma de uma águia e captura o mais belo dos belos o jovem Ganymedes.
É a experiência da Queda do Éden onde tudo era pleno e integrado e onde não havia
distinção alguma. Um é Tudo faz parte do Todo em grego, Hen Panta, revitalizado
por Heidegger. Nenhum Ente está fora do Ser, pois, como bem assinalou Heráclito,
Todo Ente é no Ser.
A gradação mística dos homossexuais e sua
relação com o mistério do sagrado não possui nenhuma variante diminutiva nem nenhum
preconceito por parte dos deuses, dos Orixás, dos Inkisis, dos Caboclos, dos
Boiadeiros, dos Índios nem tampouco de Olorum (Deus supremo). Nenhuma escolha
pessoal decorrente da sexualidade fruto do livre arbítrio é contrária ao
projeto de Deus. Nenhuma religião, nenhuma lei, nenhuma moral pode insidiar os
gays, os bissexuais, os transexuais ou qualquer forma homo afetiva em
detrimento da dignidade humana.
Esse tributo é dedicado a todos e a todas pessoas
especiais que foram, além de vitimizadas, excluídas da história da humanidade
por serem diferentes...
Ilha de Itaparica,
17 de maio de 2017
Lourenço Leite
Nenhum comentário:
Postar um comentário