grupo Pau D’Arco
O véio Luiz dizia que ‘todo cristão tem de andar a pé’.
Apesar de não ser uma Teologia da Enxada nos dá a impressão de uma sabedoria
que quer apontar um tipo de caminho percorrido por todos aqueles que enveredaram
nas sendas das estradas do sertão. O grupo Pau D’Arco é um desses andantes que
iniciaram sua caminhada no Pé de Serra do Aporá, interior da Bahia, lá pelas
bandas de Inhambupe. Partindo do litoral para o continente, fica nas imediações
da cidade do Conde e adjacências. Três irmãos: Bira [aquele do teclado],
Ubiracy [tocante do baixo] e Ubirajara [o cantante com cara de aedo do sertão]
uniram-se a Denilson [o tocador da bateria e percussão] de Salvador e
conquistaram Bepe, o siciliano mineiro, para formarem sob a rima de Paulo
Alcoforado o Grupo Pau D’Arco. Assim como seu nome, representando uma madeira
de lei, a música e a canção do grupo reflete a essência do sertão.
Desde os meados do ano de Nosso Sinhô Jesus Cristo de ‘95
que o Grupo Pau D’Arco começou a mostrar seu ‘chapéu de couro’. Calçados com as
‘Alpercatas de Lampião’ eles mostraram pra gente que ainda é possível cantar
com a alegria do coração, depois de Gonzagão, a interioridade do país, chamado
Brasil, Nordeste, Sertão Bahia. Fazendo-nos dançar o ‘Forró de Pé de Serra’ o
Pau D’Arco imprime definitivamente uma nova cara musical da música sertaneja,
mesmo que Acauã, a agorenta do sertão tenha atraído a seca cultural. Eles não
são apenas os “Novos Baianos” da música popular - são os trovadores da cultura
moderna baiana que ousando mesclar Baião, Xote, Forró, Xaxado e Jazz, acordam a
estética sertaneja do sono umbilical que a arte moderna tem dormido. Seu último
show, ‘Tributo a Luiz’, é o fruto do enlace da poesia do nosso querido, bem
amado, Luiz, com a beleza que vem das estadas no Pé de Serra.
O entoar das canções pelo Pau D’Arco é remeter-nos a um
rincão que parecia não existir mais. O canto de Ubirajara faz isso com a gente.
Com uma voz de matuto, dessas que os ‘guascas de fora’ trazem de outras bandas,
gemendo sem sentir dor como o vaqueiro depois de uma peleja atrás da boiada,
ele é ao mesmo tempo o cantador forrozeiro do Capão ou até de Canindé. Sua
trova é o arremate dos viajantes tentando compreender esse brazilzão. Seu
fôlego é a prova da resistência de um Canudos que nunca foi dizimado, mas
aponta agora os novos conspiradores. Seu charme não é o charme andrógino
indecifrável dos cantores pós-tudo. Com a sua música a gente não mais se sente
com culpa de não saber sonhar. Ela é a própria imaginação que sobrepuja o vôo,
o sonho, mesmo que amando - porque ecoa próximo ao umbigo.
Não importa mais de onde eles vieram: se do Pé de Serra ou da
Chapada, se de Londrina ou de Cabrobró. Agora eles não nos pertencem mais.
Aliás, provavelmente, nunca nos pertenceram porque já nasceram emancipados.
Lourenço Leite[1]
[1] No verão de ‘96 em Salvador, estava
no Pelourinho numa dessas noites em que a gente sai com os amigos sem saber bem
pra onde, entramos numa daquelas novas praças, verdadeiros claustros de bom
gosto da arquitetura colonial, deparei-me com um som meio esquisito e meio
familiar, resolvemos ficar. A musicalidade encheu de tal maneira meu espírito
que resolvemos dançar aquilo que aparentemente era forró, mas não sabíamos bem
como qualificar. Não sabia mais se estava no Pelourinho ou em Montréal em pleno
festival de jazz de verão. Ao terminar o espetáculo, não resisti: fui procurar
alguém do grupo a fim de saber de onde eles eram. Para minha surpresa, era um
grupo soteropolitano com sotaque sertanejo.
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