Paradoxo
Ético da Ausência de Outrem em Albert Camus
Lourenço Leite
Concernentemente
a tal fato, e em meio ao vazio instaurado pelo Pós-Guerra, tem-se a impressão
que a “alteridade” restou órfã de uma porta voz que soubesse se pronunciar em
seu favor. Entretanto, a colonização ultramarina francesa revela no Magrebe um Pied-Noir diferente, Albert Camus, escritor, filósofo, jornalista,
ensaísta e dramaturgo, para denunciar, quem sabe, as ‘evocações’ do silêncio
dos órfãos de “Deus”, as filhas da contemporaneidade. Camus utiliza-se da
linguagem simbólica para representar o Caos do mundo. Aquele Caos do qual
Nietzsche, em Assim Falou Zaratustra, reivindica um tipo de presença
perante o Deus morto na alma de seu tempo. Contudo, Deus, ao ser substituído
por uma nova ordem, cuja presença, às vezes, estonteante matara prematuramente
o sentido do mundo. Camus faz uma alusão a essa perda de sentido do homem em
sua obra, Núpcias, marcadamente repleta de características de sua vida
na Argélia que iria se tornar uma das mais expressivas de seu pensamento
mediterrâneo:
[...] quelle tentation de s’identifier à ces pierres,
de se confondre avec cet univers brûlant et impassible qui défie l’histoire
et ses agitations! Cela est vain sans doute. Mais il y a dans chaque homme un
instinct profond qui n’est ni celui de la destruction ni celui de la création.
Il s’agit seulement de ne ressembler à rien (CAMUS, 1998, p. 106).
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[...] que tentação a de identificar-se
com as pedras, unir-se intimamente a esse universo ardente e impassível que
desafia a história e suas agitações! Talvez tudo não passe de um sentimento
inútil. Pois existe em cada homem um instinto profundo que não é o da
destruição nem o da criação. Trata-se tão-somente de uma tendência para não se
assemelhar a nada... (CAMUS, 1979,
p. 85).
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Les valeurs
pour les Grecs étaient préexistantes à toute action dont elles marquaient
précisément les
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Poder-se-ia,
sem embargo ,
acrescentar que
a sociedade moderna
europeizada comete muito mais crimes de lógica com a razão que com canhões . Contudo , vale salientar que o avassalador “americanismo ”
suplantou, sem precedentes, a sociedade européia. Atualmente ,
ou seja, no Século
XXI, o antidemocratismo dos EUA, desde o
Pós-Guerra , passando pela Guerra Fria , tem conseguido, além
de sua propagação
mundial da cultura de consumo capitalista ,
implantar o terrorismo
em diversas nações
em desenvolvimento .
E, numa estratégia diplomática, combate a chamada
“War of Terror ” (Guerra
do Terror ). Basta
lê-se a metáfora de Camus sobre “os crimes
de lógica ” encontrada na Introdução de O Homem Revoltado como
uma interpretação de uma época
onde tudo
é justificado[2].
Os crimes de paixão ,
como forma
antinômica, tornam-se insignificantes perante os crimes
de lógica em
que a filosofia ,
por meio
de silogismos , é chamada
a justificá-los. Os valores ,
condicionados pelo agir humano , como precisamente antevê Camus, só
poderão ser conhecidos
na conclusão da História .
Haja vista que
Hegel tinha razão
quando afirmou que
“a coruja de Minerva só levanta vôo
ao entardecer ”. Porém ,
a época moderna
contemporânea ao assumir
a inversão dos fundamentos
dos valores , institui uma racionalidade sem
precedentes na história do pensamento ocidental ,
fazendo da razão uma escrava de si
mesma e dando ênfase a um tipo de objetivação do real
no cerne do “eu
psicológico ” (desde
Descartes até
Husserl) em que
a alteridade real
torna-se quase impossível .
Com efeito,
voltar o olhar para o mundo é olhar também a sua contradição ou a sua
absurdidade. Na esteira de Camus, poder-se-ia ver o mundo com uma tonalidade
absurda: “A inteligência me
diz também que, a sua maneira, este mundo é absurdo. Seu contrário que é a
razão cega tem a pretensão de ver que tudo é claro, esperava provas e desejava
que ela tivesse razão” [3]
(CAMUS, 1989, p. 40).
Il était une
heure après minuit, une petite pluie tombait, une bruine plutôt, qui
dispersait les rares passants. Je venais de quiter une amie qui, sûrement,
dormait déjà. J’étais heureux de cette marche, un peu engourdi, le corps
calmé, irrigué par un sang doux comme la pluit qui tombait. Sur le pont, je
passai derrière une forme penchée sur le parapet, et qui semblait regarder le
fleuve. De plus près, je distinguai une mince jeune femme, habillée de noir.
Entre les cheveux sombres et le col du manteau, on voyait seulement une
nuque, fraîche et mouillée, à laquelle je fus sensible. Mais je poursuivis ma
route, après une hésitation. Au bout du pont, je pris les quais en direction
de Saint-Michel, où je demeurais. J’avais déjà parcouru une cinquantaine de
mètres à peu près, lorsque j’entendis le bruit, qui, malgré la distance, me
parut formidable dans le silence nocturne, d’une corps qui s’abat sur l’eau.
Je m’arrêtai net, mais sans me retourner. Presque aussitôt, j’entendis un
cri, plusieurs fois répété, qui descendait lui aussi le fleuve, puis
s’éteignait brusquement. Le silence qui suivit, dans la nuit soudain figée,
me parut interminable. Je voulus courir et je ne bougeai pas. Je tremblais,
je crois, de froid et de saisissement. Je me disais qu’il fallait faire vite
et je sentais une faiblesse irrésistible envahir mon corps. J’ai oublié ce
que j’ai pensé alors. “Trop tard, trop loin...” ou quelque chose de ce genre.
J’écoutais toujours, immobile. Puis, à petits pas, sous la pluie, je
m’éloignai. Je ne prévins personne (CAMUS, 1998, p. 61-62).
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Passava uma hora da meia-noite, caía uma
chuva miúda, mais uma garoa, que dispersava os raros transeuntes. Acabava de
deixar uma amiguinha que, com certeza, já estava dormindo. Sentia-me bem com
esta caminhada, um pouco entorpecido, o corpo acalmado, irrigado por um
sangue suave como a chuva que caía. Na ponte, passei por detrás de uma forma
debruçada sobre o parapeito e que parecia olhar o rio. De mais perto,
distingui uma mulher nova e esguia, vestida de preto. Entre os cabelos
escuros e a gola do casaco, via-se apenas uma nuca, fresca e molhada, que me
sensibilizou. Mas segui meu caminho, depois de uma hesitação. No fim da
ponte, peguei o cais, em direção a Saint-Michel, onde eu morava. Já havia
percorrido uns cinqüenta metros, mais ou menos, quando ouvi o barulho de um
corpo que se precipita na água e que, apesar da distância, no silêncio da
noite, me pareceu grande. Parei na hora, mas sem me voltar. Quase
imediatamente, ouvi um grito várias vezes repetido, que descia também o rio e
depois se extinguiu bruscamente. O silêncio que se seguiu na noite paralisada
pareceu-me interminável. Quis correr e não me mexi. Acho que tremia de frio e
de emoção. Dizia a mim mesmo que era preciso agir rapidamente e sentia uma
fraqueza irresistível invadir-me o corpo. Esqueci-me do que pensei então.
´Tarde demais, longe demais...`, ou algo no gênero. Escutava ainda, imóvel. Depois,
afastei-me sob a chuva, às pressas. Não avisei ninguém... (CAMUS, 198-, p. 55-56).
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O apelo do corpo que cai e do grito que o acompanha, não
são suficientes
para que o protagonista de A Queda volva seu pescoço , dê alguns passos em direção à ponte e se jogue no rio para salvar alguém
que estava prestes a morrer .
Seu objetivo
de voltar em casa era mais premente do que salvar o outro (que não era mais semelhante)[5].
Mas , muito
embora sua
atitude se mostre como
intocável , “o silêncio
que se seguiu na noite
paralisada pareceu (lhe ) interminável ”.
Um tênue
sentimento de culpa
e de compaixão haviam se instalado em sua consciência , mas ,
por ter
sido efêmero como
a queda do corpo ,
não teve forças
suficientes para
levá-lo a agir em
prol de outrem .
A sofrer de crise de juízos éticos ,
o homem contemporâneo
encontra-se, também , no plano de sua consciência , desprovido
de uma estrutura perceptiva
de outrem , ou
seja, o seu eu
perceptivo é vazio
de outrem . Seu
eu representa-se apenas
como passado
da existência num eterno
estado de presente .
O passado e o futuro
não se tornam presentes .
Pois , o que
importa é se viver em
estado de abSoluta presença .
Daí, a exterioridade não conter a presença
de outrem ; torna-se o fora imediato que nega toda e qualquer
interioridade. É o homem sendo abSoluto da existência .
O outro, como problemática filosófica
da modernidade contemporânea, sem se querer identificá-lo ao longo de toda a
História da Filosofia, entra em cena no contexto camusiano a partir da leitura
das obras de André Gide (Paris, 1869-1951), das quais, O Imoralista, privilegia
uma menção. A narrativa, a seguir, apesar de seu naturalismo simbolista,
imbrica um potencial de percepção do outro. O protagonista, em convalescença de
saúde na companhia de sua esposa, viaja pelo norte da África e, ao chegar em
Biskra, na Argélia, depara-se com alguém que o deixa fora de si:
Uma manhã
Marcelina entra rindo:
— Trago-te um
amigo, me diz; e vejo entrar, atrás dela, um pequeno árabe de pele morena.
Chama-se Bachir, tem uns grandes olhos silenciosos que me contemplam. Sinto-me
um pouco constrangido, e este constrangimento já me cansa; não digo nada,
pareço contrariado. O menino, diante da frieza do meu acolhimento, se
desconcerta, volta-se para Marcelina e, com um movimento de graça animal e meiga,
encolhe-se contra ela, toma-lhe a mão e a beija com um gesto que descobre seus
braços nus. Noto que ele está nu sob a leve gandura branca e o albornoz
remendado.
— Vamos! Senta-te
ali, diz Marcelina, que nota meu constrangimento. Brinca tranqüilamente.
O pequeno senta-se no chão ,
tira uma faca
do capuz do albornoz ,
um pedaço de djerid
e começa a trabalhar .
É um assobio
(sic.) [6],
creio, que ele
quer fazer .
No fim de pouco tempo , sua presença já não me
constrange. Olho-o; parece ter esquecido de que estou ali . Seus pés estão nus ; os tornozelos
e os pulsos são
delicados . Maneja
sua pobre
faca com uma destreza divertida. [...] A gandura, um
pouco caída
descobre seu ombro
frágil . Sinto desejo
de tocá-lo. Inclino-me; ele se volta e me
sorri. Faço-lhe um gesto
de que me
passe o assobio ,
tomo-o e finjo admira-lo muito . Agora ele quer partir , [...] No dia seguinte ,
Bachir voltou. Sentou-se como na antevéspera , tirou sua
faca , tentou cortar uma
madeira mais
dura e trabalhou tão
bem que
enterrou a lâmina no polegar . Estremeci de horror ;
ele riu, mostrou o corte
brilhante e ficou entretido vendo correr
o sangue . Quando
ria , mostrava os dentes
branquíssimos; lambeu gostosamente o ferimento ; sua língua era rosada como a
de um gato .
Como fazia tudo
naturalmente ! Era
o que nele mais
me atraía... (GIDE, 1947, p. 33-35).
A atitude desconcertante
diante de Bachir, curiosamente ,
por analogia ,
revela um traço
do homem do pós-guerra ,
inteiramente contaminado pelos estilhaços
da era moderna ,
mas , que ,
mesmo assim ,
graças ao seu
naturalismo , abre-se para
acolher a epifania de outrem . O estupor de Gide
ao descrever milímetro
por milímetro
cada gesto
do menino se reifica em Camus, quando ,
por exemplo ,
descreve a presença do Sol sobre
Meursault, em O Estrangeiro .
O outro , tratado
por Gide, adquire fisionomia
a partir de alguém
(Bachir), enquanto que ,
para Camus, manifesta-se em
totalidades sob
configuração das absurdidades no mundo . A ontologicidade de outrem
em Camus é indicativa
de sua presença
no mundo . A Solidariedade, portanto ,
do ponto de vista
ético , é anterior
à comiseração . Apiedar-se de alguém
é, antes de todo
agir , Solidarizar-se
com ele .
Não há um
conflito dialético entre
a presença de outrem
e o seu vir a
ser . A paradoxalidade da presença ,
em estar
simultaneamente ausente , é que faz se aproximar do mundo para melhorá-lo. Isto é, torná-lo inteiramente
presente .
Ao se retomar a questão de se viver em abSoluta presença ,
pode-se, em meio
a Núpcias , de Camus, verificar
o desejo de eternização como um paradoxo sinal
de um mundo
em que
o outro poderia
fazer parte :
C’est dans la
mesure où je me sépare du monde que j’ai peur de la mort, dans la mesure où
je m’attache au sort des hommes qui vivent, au lieu de contempler le ciel qui
dure. Créer des morts conscients, c’est diminuer la distance qui nous sépare
du monde, et entrer sans joie dans l’accomplissement, conscient des images
exaltantes d’un monde à jamais perdu (CAMUS, 1998, p. 30-31).
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É à medida que me separo do mundo que
tenho medo da morte — à medida que me apego ao destino dos homens que vivem
em vez de contemplar o céu que perdura. Criar mortos conscientes é diminuir a
distância que nos separa do mundo e entrar, sem alegria, na perfeição final,
conscientes das imagens de exaltação de um mundo perdido para sempre (CAMUS, 1979,
p. 24).
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Visto desse
modo, o campo memorial do homem contemporâneo reflete apenas a experiência de
si. O seu eu tornou-se algo que almeja o outro sem rosto, porque deseja o fora,
daí o Outro não se constituir na subjetividade do sujeito. Numa das falas dos
personagens da peça Calígula, de
Camus, pode-se identificar esse querer estar constantemente fora:
Caligula, il est vrai.
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Calígula — É a
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Camus,
homem de seu tempo e de sua cultura argelino-francesa, sofre o peso do
imperialismo francês e, com isso, tenta mostrar que, além de qualquer
perspectiva filosófica a respeito do problema da absurdidade da indiferença,
está o fundamento da vida (O Sol) que
retira o homem da ambigüidade multiforme do mundo.
Atualmente, alguns autores, como
Edward Said[7], possuidores da experiência do
exílio, traçam uma abordagem geopolítica da descolonização tendo em vista a
prerrogativa de ser outrem. O próprio Said em sua obra Cultura e Imperialismo deram destaque, entre outros temas, à
experiência colonial francesa vivida por Camus no intuito de contextualizar o
imperialismo francês e a perspectiva de descolonização: Na Argélia, por mais incoerente que fosse a política dos governos
franceses desde 1830, continuou o processo inexorável de afrancesá-la.
Primeiro, as terras foram tomadas aos nativos e seus edifícios ocupados; a
seguir, os colonos franceses tomaram conta das matas de sobreiros e jazidas
minerais (SAID, 1995, p. 223).
Com efeito, Said caracteriza Camus
como sendo,
[...] filho de uma faxineira espanhola e de
um adegueiro francês, é o único autor da Argélia francesa que pode ser considerado
justificadamente como escritor de estatura mundial. Tal como Jane Austen[8]
um século antes, Camus é um romancista que não descreve os fatos da realidade
imperial, evidentes demais para serem mencionados; como em Austen, nele
permanece um Ethos que se destaca, sugerindo universalidade e humanismo, em
profundo desacordo com as descrições do palco geográfico dos acontecimentos, feitas
de maneira chã na ficção (1995, p. 223).
Camus é de particular importância
na tremenda turbulência
colonial do esforço de descolonização
francesa no século XX, reconhece Said que acrescenta: “É
uma figura imperial bastante
tardia que
não só
sobreviveu ao auge do império , mas
permanece ainda hoje
como escritor
“universalista ” com
raízes num colonialismo agora esquecido”
(1995: 225).
Said mostra que a melhor forma correlata de interpretar os romances
de Camus, portanto , seria vê-los como intervenções
na história das iniciativas
francesas na Argélia, de fazê-la e mantê-la francesa, e não
como romances
que nos
falam do estado de espírito
do autor . Mais
uma vez , a relação
entre geografia
e luta política ,
nos romances
de Camus, deve ser reativada exatamente
aonde vem recoberta por
uma superestrutura que
Sartre elogiou, por criar
“um
clima de absurdo ”.
Contudo , vale
salientar que
o conceito de “absurdo ”
tratado por
Camus, principalmente em O Mito de Sísifo, não
se restringe apenas a esses dois aspectos geopolíticos .
Notam-se, mais uma vez ,
que Said, de modo
intermitente , recorre em toda a sua obra a esses dois pontos que ele considera cruciais .
Ou seja, a literatura
universal , mesmo
que seja representativa de um Ethos, é igualmente basilar
como numa geopolítica .
Mesmo considerando que, para Said, as
obras de Camus não pretendem ultrapassar uma perspectiva histórica, quando as retomam
no paradoxo entre indiferença e presença, principalmente em O Estrangeiro, ele aponta um tênue
reconhecimento da contradição humana, asseverando:
Donde se
conclui que a interpretação
dada por
Said sobre Camus é reducionista quando evoca apenas
a geopolítica cultural de um povo ,
deixando de lado à possibilidade de se
pensar a universalidade da condição humana , mesmo que o Árabe morto por
Meursault não tenha nome
próprio .
Evidentemente
que o recorte apresentado por Said não pretende demonstrar o problema dessa
universalidade, mas, sobretudo da condição particular de povos que não se
tornaram nações nem de nações que não se constituíram como povos homogêneos.
A bem da verdade , Said, entre outros interlocutores [9],
atua como aqueles
que , de seu
próprio lugar ,
ainda não
puderam se fizer representar ; seja como grupo político , seja como
cidadão , seja como
povo excluído ,
seja como despatriado e nem tenham podido se fazer compreender enquanto consciência não
totalitária que inclui a diferença .
A
fala dos excluídos de um tipo de sociedade em que se nega a presença da
diferença deve, verdadeiramente, eclodir das gargantas e das entranhas de todo
aquele que nega o discurso vazio, estéril, impotente e destituído de Sol.
Referências Bibliográficas:
§ CAMUS, Albert. Calígula / O Equívoco .
Tradução de Ersílio Cardoso.
Lisboa : Edições Livros do Brasil, 197-.
§ CAMUS, Albert. O homem
revoltado. Tradução de Valerie
Rumjanek. Rio de Janeiro :
Record, 1997.
§ CAMUS, Albert. Núpcias ,
o verão . Tradução
de Vera Queiroz da Costa
e Silva. Rio de Janeiro :
Nova Fronteira ,
1979.
§
CAMUS, Albert. Caligula
suivi de le malentendu. Paris : Gallimard, 1998.
§
CAMUS, Albert. L’homme
Révolté, essai. Paris : Gallimard, 1998.
§
CAMUS, Albert. La chute . Paris : Gallimard, 1998.
§
CAMUS, Albert. Noces
suivi de l’été. Paris : Gallimard, 1998.
§ GIDE, André. O Imoralista. Tradução
de Theodemiro Toster. Porto Alegre :
Globo , 1947.
§ SAID, Edward. Cultura e imperialismo .
Tradução de Denise Bottman. São Paulo: Companhia
das Letras , 1995.
§ SAID, Edward. Orientalismo:
o oriente como
invenção do ocidente .
Tradução de Tomás Rosa Bueno. São
Paulo: Companhia das Letras , 1990.
[1] Os messianismos de hoje
— tal como
afirma Camus, adquiriram força e se
proliferaram pelo mundo
a partir do Pós-Guerra
Mundial (1939-1945) hipostasiadas pelo fenômeno ideológico do “American Way of Life”. A América Latina foi o lugar
por excelência
dessa onda avassaladora que se espalhou pela
África e Ásia, chegando por fim à Europa. Há uma obra
de Delcio Monteiro de Lima , intitulada Os Demônios
Descem do Norte , publicada pela
Farncisco Alvez que é muito esclarecedora dessa propagação .
Obviamente que se aliou o vácuo do Pós-Guerra
com o poder econômico dos aliados
da II Grande Guerra .
O resultado foi maquiavelicamente perfeito . De início ,
instituem-se ditaduras na América Latina e na África e depois
ou , concomitantemente ,
enviam-se tropas de evangelização ,
devendo, portanto , minar
todas as formas ancestrais
de resistência cultural e religiosa .
No entanto , vale
considerar que
os evangélicos , apesar
de terem evoluído para uma forma
de religião pasteurizada
e popular , não
atinaram para os efeitos
do ganho do capital
pela via da
persuassão. Surgem, portanto , os
neo-pentencostalistas. Nascida e criada em terreno baldio
do coração dos desesperados e dos sem esperança ,
estas igrejas prometem a salvação de todos os infortúnios, com
direito a, desde
que se pague para
tanto , expulsão
de demônios , de encostos ,
neutralização de feitiçarias , quitação de dívidas
financeiras , separação
de cônjuges com
problemas de alcoolismo ,
conversão de jovens
viciados em drogas
(não ilícitas). A escatologia ,
com esses
tipos de igreja ,
adquire status de existência
no mundo em
que se vive, sem
passagem pela
morte . Reviver em Jesus, eis a
vitória do bem sobre o mal , sem que o Anjo revele o sétimo
selo do Apocalipse .
Os eleitos, i. é., os convertidos, já
vivem sob a égide
do Salvador . Portanto ,
não importam os meios ,
os fins estão justificados. Com efeito ,
Camus, como a fênix ,
renasce dos escombros da Peste e vem testemunhar a favor da inocência , talvez , como
destacou Kazantzakis em O Cristo
Recrucificado ou Prometeu será de novo acorrentado.
[2] O « 11
de setembro » é a prova
irrefutável de sua
percepção dos crimes
de lógica . Jamais ,
ao longo da história
da humanidade , a inocência
foi tão julgada nos
tribunais da “má consciência ”.
Mesmo Deus
está sendo intimado a justificar-se pelas retaliações cometidas contra os totalitaristas de direita .
Na “Guerra do Terror ”,
a vítima pode tudo
porque seus
valores não
têm ética .
[3]
L’intelligence aussi me dit donc à sa manière que ce monde est absurde.
Son contraire qui est la raison aveugle a beau prétendre que tout est clair,
j’attendais des preuves et je souhaitais qu’elle eût raison (CAMUS, 1998, p.
38).
[4] Si notre temps admet aisément que le meurtre ait ses justifications,
c’est à cause de cette indifférence à la vie qui est la marque du nihilisme
(CAMUS, 1998, p. 19).
[5] A concepção
bíblica da criatura (Homem ) ser « imagem e semelhança de Deus » perde, a partir
da Renascença , seu
atributo de semelhança ,
i. é., de sua alteridade
que tinha
Deus como
paradigma . Desde
então , o homem
é apenas imagem
refletida em seu
próprio ser sem
seu próprio espelho , ou
seja, um tipo
de narcisismo sem
mistério .
[7] Edward SAID nasceu em
1935 em Jerusalém, de família cristã protestante ,
mas de cultura
árabe , naturalizou-se americano
vindo a falecer em
setembro de 2003..
[8] Romancista inglesa nasceu em 1775 e morreu em
1817. Escreveu Amor
e Amizade, Orgulho e Preconceito,
Razão e Sensibilidade, dentre outras.
[9] Vale destacar outro autor desse tipo de
crítica ao imperialismo cultural, o indiano Homi BHABHA que, em sua obra: O Local da Cultura, publicado pela
editora da UFMG, em 1998, aborda com bastante veemência o mesmo problema.
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